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Política com Assinatura
Cotrim de Figueiredo: "Candidato-me para poder votar em mim próprio"
João Cotrim de Figueiredo candidata-se à Presidência da República para responder àquilo que chama "um eleitorado vasto que não se sentia representado em nenhum dos candidatos".
Imagem e edição vídeo: Pedro Chitas
“Eu sei que é um bocado estúpido dizer, mas eu candidato-me para poder votar em mim próprio”, admite Cotrim de Figueiredo, que assegura que, assim que decidiu avançar, recebeu logo mensagens de eleitores que se reveem na sua candidatura.
Recusa candidatos “cinzentos” e acusa alguns candidatos de não estarem “interessados, não sei se capacitados para discutir os temas cabeludos que Portugal vai ter que enfrentar”.
Saúde: privados “sobrevivem do mau funcionamento do SNS”
“Os grandes adversários de implementação daquele sistema iam ser os grupos privados de saúde”. Cotrim de Figueiredo refere-se ao Sistema Universal de Acesso à Saúde, uma proposta que apresentou e que defende um modelo no qual o Estado financia a saúde através de subsistemas e no qual os utentes têm a liberdade de escolher onde aceder aos serviços, seja o setor público como ao privado, sem custos adicionais.
Na opinião do candidato a Presidente da República os privados “conseguem captar doentes, especialmente com patologias menos complexas, mas mais rentáveis, exatamente porque o SNS não serve”.
Sobre a criação de um pacto de regime para o setor da saúde, Cotrim de Figueiredo defende “sim, pactos sempre que possível, mas antes de discutir isso, é perguntar: um pacto para fazer o quê?”.
“Quando há uma instrução que é recebida com repulsa, ministra da Saúde perde autoridade”
João Cotrim de Figueiredo garante que, caso ganhe a Presidência da República, não será um Presidente “que vai pedir cabeças de ministros”. Mas, por agora e relembrando a notícia do jornal Público que deu conta da indicação, por parte da Direção Executiva do SNS, para que os hospitais cortem na despesa, entende que “quando há uma instrução que é recebida com resistência ou até com repulsa, (a Ministra da Saúde) perde autoridade”.
Discorda do atual modelo de Direção Executiva do SNS, e caracteriza a figura do Diretor como “um para-raios para qualquer ministro da Saúde”.
Questionado pela editora de política da Antena 1 sobre se tem havido coragem para reformar o Serviço Nacional de Saúde, o candidato a Belém é peremptório: “Não”.
Cotrim de Figueiredo defende que a coragem que tem faltado na Saúde, falta noutros setores, como a Educação, a Segurança Social, a Defesa.
E isso acontece, diz o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, por culpa “desta obsessão com a eleição seguinte, de que não posso ofender ninguém, não posso prejudicar ninguém que possa ser uma clientela eleitoral faz com que os problemas se adiem”.
Privatização da Segurança Social? “Não. É um pilar que as democracias têm de sustentar”
Cotrim de Figueiredo afasta a intenção de aprovar, enquanto Presidente da República, a privatização da Segurança Social.
Diz mesmo que o sistema “é um pilar importantíssimo do Estado Social que eu acho que as democracias modernas têm a obrigação de manter e sustentar”.
No entanto defende também que a Segurança Social deve garantir a “justiça intergeracional” e que por isso “o modelo deve ser revisto em termos do seu financiamento e da sua capacidade de gerar muito mais equidade entre gerações”.
“Gostava que o Governo não se preocupasse tanto com eleições e clientelas”
“Infelizmente tenho que estar de acordo com Passos Coelho”, quando o antigo primeiro-ministro afirmou que Luís Montenegro gere o calendário político em vez de governar o país, e Cotrim de Figueiredo dá como exemplo o Orçamento do Estado para 2026.
“Está feito para não levantar ondas, foi muito elogiado o facto de não haver os chamados cavaleiros orçamentais, mas, na verdade, não está lá nada”.
Gostava de ver um PSD a ser mais reformista, como foi no passado, e que “não se preocupasse tanto com a eleição seguinte e clientelas eleitorais".
Em entrevista ao podcast Política com Assinatura, o candidato a presidente da República afirma que “não vou comprometer-me aqui a demitir ou deixar de demitir um Primeiro-Ministro que venha eventualmente a ser arguido”.
E conclui: “sim, se houver indícios suficientemente fortes, farei a pressão, aliás neste caso até tenho o poder direto de destituir o Primeiro-Ministro".
Centeno “deu provas de não ter o perfil e a idoneidade para ser primeiro-ministro"
Quanto à dissolução do Parlamento, entende que esse instrumento não pode ser usado “por dá cá aquela palha”.
“É do Parlamento que emana o Governo, e, portanto, se o Parlamento não muda, o Governo e o seu primeiro-ministro só devem mudar em casos muito excecionais”.
Garante que não tinha dissolvido a Assembleia da República durante a maioria absoluta de António Costa, mas “também teria tentado dissuadir o Partido Socialista de apresentar o nome de Mário Centeno como alternativa a António Costa, porque acho que Mário Centeno deu provas de não ter o perfil e a idoneidade para ser Primeiro-Ministro". Entrevista conduzida por Natália Carvalho, editora de Política da Antena 1.